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Com o compromisso de enfrentar os desafios crescentes da hanseníase no Brasil, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeal) apoiou um estudo que busca identificar marcadores genéticos associados à doença, em Alagoas, mas que vai além e também desenvolve produtos tecnológicos.

 

O projeto liderado pela pesquisadora Carolinne Marques recebeu o apoio da Fapeal para investigar esta doença que é endêmica e negligenciada. A estudiosa, vinculada ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), explica que no dia 26 de janeiro se comemorou o dia mundial de combate à hanseníase, e que desde o ano de 2016 foi criada a campanha “Janeiro Roxo”, do Ministério da Saúde, quando são promovidas ações em todo o país para disseminar o conhecimento sobre a doença, buscando alertar e conscientizar a população sobre o seu caráter silencioso e estigmatizante.

 

O objetivo da ação é importante para o Brasil, pois a nação ocupa hoje a 2ª colocação em notificações de novos casos, e o primeiro lugar nas Américas. Em 2022, por exemplo, foram detectados 19.635 casos novos da patologia, com distribuição heterogênea e maior concentração de casos nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, de acordo com o Ministério da Saúde.

 

“Embora a hanseníase seja causada por uma bactéria, uma vez tendo exposição a este patógeno, apenas uma pequena parcela da população (estima-se que entre 1-5%) adoece. Além disso, evidências indicam que o componente genético individual possui influência importante no desenvolvimento da hanseníase e suas formas clínicas”, explicou a doutora em Biologia Celular e Molecular. Como o distúrbio persiste com alta carga no Brasil, e ainda representa um problema de saúde publica, o enfrentamento e eliminação da hanseníase e a disseminação do conhecimento e diagnóstico são de extrema relevância para o seu combate efetivo.

 

Características do estudo

 

A pesquisadora explica que a hanseníase é uma doença infecciosa que acomete principalmente populações em vulnerabilidade social, e que quando diagnosticada tardiamente ou tratada incorretamente pode levar a incapacidades físicas e deformidades irreversíveis.

 

“Nosso estudo propõe realizar uma análise epidemiológica, clínica e genética da hanseníase em Alagoas, compreendendo como o perfil genético do indivíduo pode influenciar na ocorrência desta doença tão impactante. E, assim, desenvolvermos produtos tecnológicos aplicáveis aos profissionais de saúde e aos pacientes com a doença”, frisou Carolinne Marques.

 

O principal intuito de sua análise é apontar grupos de maior risco para o desenvolvimento da doença e das incapacidades físicas, e assim propor estratégias de intervenção.

 

“Na abordagem epidemiológica da nossa pesquisa, identificamos em Alagoas taxa de detecção anual de hanseníase com média de 13,27 por 100 mil habitantes, indicando alta endemicidade”, explica a professora. O perfil da doença de 2009 a 2019, em menores de 15 anos, e para o indicador de incapacidade física apresentou-se estacionário, ou seja, a doença se mostrou em taxas similares ao longo dos anos estudados, indicando transmissão ativa e diagnóstico tardio no estado.

 

Pensando nesta importância da identificação precoce no contexto da hanseníase, o projeto está desenvolvendo um aplicativo voltado para os profissionais da saúde, o DiagHans, com enfoque no auxílio diagnóstico e predição das incapacidades. Essas estratégias poderão auxiliar os especialistas no enfrentamento da doença, e impacto no diagnóstico precoce e assertivo.

Mas não é só isso, o grupo de pesquisa também está desenvolvendo materiais educativos tais como cartilhas, folders e um podcast exclusivo sobre a doença, o “Hanscast”, incluindo temáticas apontadas pelos profissionais como mais relevantes no contexto deste distúrbio.

 

Concluindo suas contribuições, Carolinne Marques frisa que os materiais educativos elaborados no estudo podem ser prontamente aplicados no SUS, colaborando para a capacitação dos profissionais da saúde e da atenção básica no âmbito da hanseníase.

 

Saiba mais

A pesquisa é apoiada pelo Governo de Alagoas através do Programa de Pesquisa para o SUS. O último edital destinou R$ 1 milhão do tesouro estadual, através da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e da Fapeal, com R$ 500 mil reais de cada instituição, e do Ministério da Saúde que cedeu R$ 3 milhões através do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde – Decit/SCTIE/MS. O PPSUS também conta com a parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Nesta edição, 25 projetos foram apoiados, para execução em até 24 meses.