Os alagoanos ganharam mais um serviço de saúde importante para assistência aos casos de suicídio e autolesão em plena campanha do Setembro Amarelo. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) lançou o Centro de Acolhimento Integrado e Prevenção do Suicídio e Autolesão (Cais), com a sala no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió. O objetivo é realizar o atendimento em saúde mental, com foco na prevenção e posvenção ao suicídio, com profissionais qualificados e aptos para fazer o manejo da situação e efetuar os encaminhamentos necessários para as redes de saúde.
Nos primeiros oito meses deste ano, somente a maior unidade de Urgência e Emergência de Alagoas notificou 78 casos relacionados à tentativa de suicídio, conforme o Serviço de Arquivo Médico e Estatística (Same). Em 2023, foram contabilizados 108 casos e, em 2022, foram 121.
A utilização de substâncias químicas para os casos de tentativas de suicídio são as mais recorrentes no HGE, entre elas o consumo de medicamentos, venenos e produtos químicos. Realidade que caracteriza um problema de saúde pública mundial, tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já estabeleceu a prevenção ao suicídio como componente integral do Plano de Ação em Saúde Mental, tendo como meta reduzir em 10% o número de suicídios em cada país até 2030.
“As portas e emergências dos hospitais costumam ser o principal meio de entrada para pessoas que atentaram contra a própria vida. Os profissionais da saúde nesse contexto têm papel fundamental, desde o acolhimento dessas pessoas e de suas famílias, até a avaliação de risco e encaminhamento desses pacientes para a continuidade do cuidado em saúde mental. Nesse primeiro momento, estamos iniciando esse valioso projeto no HGE, mas a nossa intenção é expandi-lo para outras unidades de saúde e serviços públicos”, salientou o secretário de Estado da Saúde, médico Gustavo Pontes de Miranda.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do SUS, entre os anos de 2019 e 2022, a região Nordeste registrou 13.933 mortes por lesões autoprovocadas, ocupando o segundo lugar como região do país com mais casos. No que se refere ao Estado de Alagoas, Maceió lidera o ranking de mortes por lesões autoprovocadas, seguida por Arapiraca, Palmeira dos Índios e Igaci.
Conforme os dados fornecidos pela Gerência de Vigilância e Controle de Doenças não Transmissíveis da Sesau, entre 2019 e 2023, o HGE atendeu 45,89% dos casos de violência interpessoal e autoprovocada, enquanto que o Hospital da Mulher (HM) assistiu 35,45% dos episódios desta natureza. As demais instituições de saúde foram as responsáveis por atender 18,66% dos casos desta natureza.
“Acreditamos que é possível prevenir o suicídio, porém é necessário que os profissionais de saúde estejam aptos para reconhecer os fatores de riscos, fazer acolhimento humanizado, realizar escuta empática e fazer encaminhamentos assertivos. Esse acolhimento é fundamental para definir o risco de novas tentativas e qual cuidado em saúde mental será necessário para essas pessoas. Essa é a rotina do Cais, um projeto que veio para ficar e visamos levar para outras unidades de saúde do Estado”, defendeu Tereza Cristina, supervisora de Atenção Psicossocial da Sesau.
Antes da inauguração, a equipe que participou da implantação do Cais no HGE já estava em atividade identificando e assistindo os casos suspeitos e confirmados de suicídio e autolesão. A intenção foi entender o funcionamento da maior unidade de Urgência e Emergência de Alagoas e encontrar os melhores direcionamentos para a inclusão desse novo serviço. Durante esse período, iniciado em agosto deste ano, já foram abordados 23 pacientes: 10 internados por intoxicação exógena, quatro por queimadura, três por enforcamento, dois por pular de altura, um por se atirar contra veículo, um por arma branca, um por autolesão e mais um de causa ainda não esclarecida.
“Além da abordagem aos casos identificados, também fazemos busca ativa para identificar perfis suspeitos entre os pacientes internados no HGE. Contudo, pretendemos levar a uma maior conscientização e compreensão dessas questões, reduzir a subnotificação, promover mais qualificação aos profissionais, traçar novas estratégias de combate ao suicídio e autolesão, prestar apoio às famílias e fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial, que é tão importante para a continuidade adequada do cuidado a esse público”, pontuou a coordenadora de Serviço de Psicologia do HGE, Soraya Suruagy.