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A Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, situada em Coqueiro Seco, região metropolitana de Alagoas, foi oficialmente tombada nesta quinta-feira (9), durante a 104ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O prédio histórico agora está inscrito nos Livros do Tombo das Belas Artes e do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, que reconhece a sua importância histórica e arquitetônica.

 

“O tombamento da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens é um marco para a história e a cultura de Alagoas. Esta edificação não apenas representa um patrimônio arquitetônico singular, mas também é um testemunho vivo da devoção e da identidade religiosa da região desde os tempos coloniais. Sua importância vai além das paredes físicas, pois se integra de forma única à paisagem e à história da cidade, refletindo a interação entre fé, arte e vida cotidiana”, destaca a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas, Mellina Freitas.

 

Para o Gerente de Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas (Secult), Pablo Maia, o tombamento representa um reconhecimento do valoroso patrimônio que o estado de Alagoas possui, de relevância nacional. “Os detalhes arquitetônicos, como os singulares embrechados das torres, de uma arquitetura que remonta ao século 18 e se estende até o século 19, evidencia a riqueza histórica e cultural desta edificação. Este é apenas um exemplo do vasto patrimônio histórico e também referência religiosa para diversas manifestações imateriais associadas que Alagoas tem a oferecer, não apenas aos alagoanos, mas a todo o país”, disse o gestor.

 

A edificação, iniciada em 1790 e concluída nos primeiros anos do século XIX, se destaca pela sua qualidade artística, combinando elementos dos estilos rococó e neoclássico. Além disso, sua posição estratégica no alto de um morro, voltada para a Lagoa Mundaú, a destaca como um ponto de referência histórica e cultural na região.

 

O tombamento não apenas reconhece o valor arquitetônico da igreja, mas ressalta também sua importância como centro de devoção e celebração religiosa. Anualmente, em 6 de janeiro, a comunidade local presta homenagens à padroeira Nossa Senhora Mãe dos Homens com festividades, procissões e missas, reforçando os laços históricos e espirituais que unem a população à sua herança cultural.

 

Dados obtidos por meio de pesquisa realizada durante o processo de reconhecimento da Igreja como Patrimônio Cultural do Brasil revelam que a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens, esculpida em madeira dourada, adorna a edificação desde 1791. A figura da Virgem Maria, segurando o Menino Jesus no braço esquerdo e abençoando os fiéis com a mão direita, é representada em uma escultura monumental de aproximadamente 1,40 metros de altura.

 

Integração entre igreja, paisagem e cidade

 

Destaque turístico e de relevância socioeconômica para o estado de Alagoas, a Lagoa Mundaú, que se estende da capital Maceió e alcança as cidades de Santa Luzia do Norte e Coqueiro Seco até encontrar o oceano Atlântico, permitiu o florescimento de uma cultura ribeirinha na região, baseada especialmente na pesca do sururu, iguaria de destaque local até hoje.

 

O transporte lacustre também foi um traço marcante de Coqueiro Seco, sendo um meio de chegada e saída da cidade. Nesse sentido, os modos de vida e ocupação emergentes daquela paisagem constituída pela vegetação, especialmente de coqueiros, e pela lagoa foram determinantes para orientar a construção integrada da Igreja, que foi erguida exatamente virada para a Lagoa Mundaú, podendo assim ser avistada à distância por sua localização privilegiada no alto de um morro e a cerca de 200 metros da orla da lagoa.

 

Do mesmo modo, a edificação da Igreja no alto do morro, em posição destacada, como era comum na ordenação urbana católica, transformou o sentido da urbanização da cidade, na medida em que os espaços religiosos tinham protagonismo na vida social. Se anteriormente as pequenas casas ocuparam as margens da lagoa, após a implantação da Igreja, a cidade cresceu monte acima e a envolveu.

 

“[…] a valorização dos espaços sagrados – igrejas e capelas – transformava-os em pontos de atração para os quais convergia a população ávida pelo contato com aqueles locais onde, além da visibilidade arquitetônica e das questões religiosas a eles inerentes, lá eram estabelecidas importantes e necessárias atividades ligadas à sociabilidade”, aponta o dossiê.

 

Assim, o valor paisagístico do bem ali instalado e integrado à topografia e ao modo de vida da cidade é uma das bases do tombamento, garantindo tanto a proteção da edificação quanto da sua área de entorno.

 

Excepcional por fora e por dentro

 

Ao subir as escadas em frente à Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, tem-se noção dos destaques mais evidentes da “excepcionalidade arquitetônica” do edifício: as influências rococó e neoclassicista e a frontaria azulejada, feita em meados do século XIX, características incomuns em monumentos religiosos no Nordeste do Brasil à época.

 

A técnica trazida de Portugal enfeita com azulejos em padrão floral as duas torres e o tímpano (parede decorativa acima da porta da Igreja, entre as duas torres) e é complementada com um embrechado, artifício de decoração que busca imitar a azulejaria tradicional a partir de cacos de cerâmica, conchas e pedras coloridas – uma solução encontrada pela arquitetura brasileira para problemas nas edificações da época e que torna a edificação singular na região naquele momento, aponta o parecer técnico.

 

Da porta para dentro, são elementos artísticos integrados, entalhados em madeira, que chamam a atenção. Retábulos, púlpitos, pia batismal, sanefas e tribunas em estilo rococó, uma fase mais suave do Barroco, assim como a imaginária e objetos litúrgicos. Tudo encomendado a entalhadores e artistas santeiros da Bahia, conforme relatos historiográficos, indicando a singularidade do bem cultural.

 

 

Apesar da perda parcial desses artefatos após desabamento do telhado em 1949, em consequência de uma tempestade, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens manteve seu valor arquitetônico único, assegurando-lhe também a inscrição no Livro do Tombo das Belas Artes.